viernes, 27 de noviembre de 2009

1937 - Clube de Regatas Itapagipe


FOTO:Mestre Juvenal: Que venha Juvenal, jovem de vinte anos, que venha o mais ágil, o mais técnico, que venha qualquer um, e Samuel, o Querido de Deus, mostra que ainda é o rei da capoeira da Bahia de Todos os Santos. Os demais são seus discípulos e ainda olham espantados quando ele se atira no rabo-de-arraia, porque elegância assim nunca se viu... E já sua carapinha tem cabelos brancos... '
A CAPOEIRA NA SOCIEDADE DO CAPITAL: A DOCÊNCIA COMO MERCADORIA-CHAVE NA TRANSFORMAÇÃO DA CAPOEIRA NO SÉCULO XX.
BENEDITO CARLOS LIBÓRIO CAIRES ARAÚJO


A partir da organização da Regional, os demais capoeiras da época, resistentes às transformações realizadas por Mestre Bimba, iniciaram movimentos por uma organização institucional. A primeira tentativa de organização do movimento aconteceu no II Congresso Afro Brasileiro, que aproximou os mestres da ‘outra’ capoeira, sob o nome de União dos Capoeiras Baianos, liderada por Samuel Querido de Deus, o "que por razões desconhecidas não se concretizou.".(Abreu, 1999, p. 17). Vejamos a nota do jornal Estado da Bahia de 13/01/1937; com os comentários de Abreu,1999:



"CAPOEIRA ANGOLA – As nove e meia da manhã, haverá no campo de basket-ball do Clube de Regatas Itapagipe uma demonstração de capoeira Angola luta fetichista dos negros bantus da Bahia. A vadiação será dirigida por Samuel Querido de Deus, considerado pelos seus páres, como o melhor capoeirista da Bahia e terá o.concurso de Barbosa, Onça Preta, Juvenal, Zepelim, Bugaia, Fernandes, Eutychio, Neném, Ze Ambrósio, Barroso, Arthur Matos, Raphael, Edgar, Damião e outros adeptos da grande arte de Mangangá". Bimba ficou de fora, seu nome não aparece em nenhuma relação. Certamente o convite fora exclusivo ao pessoal da Capoeira Angola. Na ocasião, ele já andava cismado com os Angoleiros57 (e vice-versa), que rejeitavam sua Escola de Capoeira Regional, com a qual também não simpatizavam (penso eu) alguns influentes intelectuais do 2º Congresso Afro-Brasileiro, a exemplo de Edison Carneiro, seu organizador. (idem, p.18, nota 2)





Mestre Bimba, precursor do movimento de privatização da prática da capoeira58, constituía, nesses termos, o esteio para o surgimento do produto cultural Capoeira de Angola.



57 Denominação dada ao praticante de capoeira Angola: Angola –eiro. Segundo Houaiss (Dicionário Eletrônoco da Língua Portuguesa), "o afixo -eiro pode agregar-se a 1) um subst.: corujeiro, foreiro, fronteiro, ordeiro, verdadeiro etc.; 2) um adj.: agasalhadeiro, baixeiro, careiro, certeiro, raseiro etc.; 3) um adv.: traseiro, dianteiro. Junção de Angola + eiro, relacionado à idéia de nação dos capoeiras de Angola (não aos cidadãos da nação Angola – Angolanos, mas aos praticantes desse estilo de capoeira)


58 Em Bimba é bamba, Mestre Bimba é retratado como o primeiro profissional de capoeira: "Bimba fez da capoeira sua ocupação principal, fez dessa luta sua labuta do dia a dia, seu ganha pão. Seu exemplo não foi de imediato seguido pelos outros capoeiristas, conforme afirmou Jorge Amado em 1944. ‘O único profissional baiano da capoeira é mestre Bimba, um dos mais afamados da cidade. Todos os demais são amadores. O que não que dizer que sejam inferiores, que não levem a sério a ‘arte’, que não possam derrubar com um golpe bem aplicado qualquer um de vós. Samuel é marítimo, joga capoeira por diversão, e no entanto sua fama é tão grande se não maior que a do mestre Bimba’." (ABREU, 1999, p. 37).


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