.........................Capoeiras negros e mulatos, cabras ligeiros na arte da rasteira, do rabo-de-arrais, do arrastão, no manejo do cacête, da navalha, da faca de ponta, tornaram-se guarda-costas não só de homens do govêrno mais violentos como de políticos oposicionistas mais irrequietos. Os capoeiras do Recife, como os do Rio, eram quase sempre mulatos de gaforinha, andar gingado, lenço encarnado no pescoço. Por debaixo da camisa, raro era o que não levasse oração fechando-lhe o corpo às balas da polícia e às facas dos outros cabras. Às vêzes ostentavam tatuagens no peito, no braço ou noutras partes do corpo: corações, signo-salmão, âncoras, sereias e nomes de mulheres. Quase todos gostavam de sua branquinha ou aguardente de cana; de seu violão; de ostentar seu dente de outro; e todos tinham nomes de guerra pitorescos: Canhoto, Sabe-Tudo, Bode-Ioiô, Pé-de-Pilão, Rabo-de-Arraia, Bentinho do Lucas, Nascimento Grande.
Nascimento Grande foi o último grande capoeira do Recife: morreu há três quatro nos, já velho e doente, no Rio de Janeiro, num sítio de Jacarepaguá onde o acolhêra José Mariano Filho. Passara da Monarquia à República; eu próprio ainda ovi, com olhos de menino de onze anos, seguindo como guarda-costas o carro triunfante - carro aberto, a capota arriada - em que o General Dantas Barreto, duro, pequeno e de pince-nez, entrou em 1972 no Recife ao som da Vassourinha:
"Salvai, salvai, querido general !"
Recife --- 1939-1957.
G . F.
Fonte: FREYRE, Gilberto. O Velho Félix e suas "memórias de um Cavalcanti". Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 142p.
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