sábado, 4 de septiembre de 2010

RAÍZES ÉTNICAS DA CAPOEIRA

FIS -Faculdades Integradas Simonsen

Departamento de História
Curso de Pós-Graduação em História da África e da Diáspora Africana no Brasil
Bruno Rodolfo Martins
RAÍZES ÉTNICAS DA CAPOEIRA
Rio de Janeiro
Fevereiro 2010
(pg 40) Encontramos nos discursos de dentro da capoeira demonstrações da influência ideológica dominante daquele momento. Um exemplo é o trecho do livro “Capoeira Angola” de mestre Pastinha, quando aponta a tendência de:
considerar a Capoeira Angola como modalidade nacional de luta, o que, honrosamente, a coloca em posição privilegiada, valendo como uma consagração definitiva como modalidade esportiva.

Mas a Capoeira Angola é, ainda, folclore nacional. Os serviços de turismo, na Bahia, colocam como ponto obrigatório, em seus programas, uma visita às academias de Capoeira.80
Foi sob uma ótica marcadamente militarista, disciplinadora e eugenizadora que a capoeira se esportivizou. Neste investimento oficial do governo na capoeira-esporte houve um privilégio da capoeira baiana.81 A partir da década de 1930, com o governo Getúlio Vargas, tanto mestre Bimba como mestre Pastinha, em seus movimentos, procuraram reconhecimento do Estado, a retirada da marginalidade atribuída à capoeira, ao mesmo tempo em que estavam adaptando-a às regras sociais daquele momento: por exemplo, a exaltação da nacionalidade nessas capoeiras pode ser identificada na influência militarista, como a hierarquia, a disciplina, o uso de uniformes e códigos de conduta, demonstrando que a partir dali a capoeira faria parte da ordem que vigorava. Perdia seu caráter eminente de combate e de reação ao sistema e ganhava um enquadramento. Com isso poderíamos também questionar até onde iria a autonomia (com a arte se auto-regulando) e averiguar a influência desse reconhecimento, que traria regras impostas por intervenções externas. A capoeira continuaria a ser expressão motivada pela “ânsia de liberdade”?82 Enfim, “ao longo das décadas de 30 e 40 certas manifestações culturais negras como o samba, a capoeira e o candomblé, até então bastante perseguidas, foram, pouco a pouco e em graus diferenciados, ‘desafricanizadas’ e transformadas em ícones da brasilidade”.83
Ao mesmo tempo, paralelamente aos projetos de Bimba e Pastinha em Salvador, existia no Rio a difusão da capoeira de Sinhozinho, muitas vezes desvalorizada, já que não tinha os atributos rituais e musicais das capoeiras baianas e tinha o foco no aspecto estritamente de luta.
A partir da ascensão de Getúlio Vargas ao poder, a prisão de capoeiras tornou-se praticamente inexistente. Ao mesmo tempo, a capoeira baiana tornava-se hegemônica no país, projeto este levado a efeito por meio da divulgação da cultura baiana pelo governo da Bahia e propalada por seus melhores intelectuais – Jorge Amado, Gilberto Freyre e Édison Carneiro. Com uma bem direcionada estratégia de difusão, a Bahia tornou-se o pólo irradiador da cultura brasileira, que tinha seu eixo na miscigenação cultural e racial. Essa estratégia eleva a capoeira a símbolo da brasilidade e dá visibilidade aos seus maiores expoentes, Bimba e Pastinha.84

80 PASTINHA, Mestre. Capoeira Angola. 2ªed. Salvador: Escola Gráfica Nossa Senhora de Loreto, 1968. p.30 (os grifos são nossos). Este livro está disponível para consulta no Acervo Cultural de Capoeira Artur Emídio de Oliveira, sediado na Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
81 REIS, Letícia Vidor de Souza. Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição. Dissertaçã
(Mestrado em Ciência Social - Antropologia Social); USP, 1993. p.68 82 Trecho de uma frase célebre de Pastinha: “Angola, capoeira mãe, mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.” 83 REIS, Letícia Vidor de Souza. Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição...p.72
82 Trecho de uma frase célebre de Pastinha: “Angola, capoeira mãe, mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.”
83 REIS, Letícia Vidor de Souza. Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição...p.72
84 FERREIRA, Izabel. A capoeira no Rio de Janeiro: 1890-1950. Rio de Janeiro; Novas Idéias, 2007. (coleção Capoeira Viva, volume 1) p.18.

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