domingo, 27 de febrero de 2011

1920- Urucungo a gemer na cadência do jongo

Do taquaral à sombra, em solitária furna,
(para onde, com tristeza, o olhar curioso alongo),
sonha o negro, talvez, na solidão nocturna,
tom os límpidos areais das solidões do Congo.
Ouve-lhe a noite a voz nostálgica e soturna,
num suspiro de amor, num murmurejo longo,
e o rouco, surdo som zumbindo na cafurna,
é o urucungo a gemer na cadência do jongo.
Bemdito sejas tu, a quem, certo, devemos
a grandeza rial de tudo quanto temos!
Sonha em paz! Sê feliz! E que eu fique de joelhos,
sob o fúlgido céu, a relembrar, magoado,
que os frutos do café são glóbulos vermelhos
do sangue que escorreu do negro escravizado!
Ciro Costa
(Brasileiro)
FUENTE: (PAG 72) Os cem sonetos ; com um pref. de Mayer Garção (1920), Author: Garção, Francisco de Sande Salema Mayer, 1872-1930, Subject: Sonnets, Portuguese; Sonnets, Brazilian, Publisher: Lisboa : Impr. Nacional, Language: Portuguese

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