Entre o Oriente e o Atlântico: «interdependências» no Império Português, no final da Idade Moderna
Entre o Oriente e o Atlântico:
«interdependências» no Império Português, no final da Idade Moderna
Luís Frederico Dias Antunes
(Departamento de Ciências Humanas do IICT)
3. As novas dependências do comércio indo-brasileiro (1808-1820).
Finalmente, vejamos em traços gerais os circuitos comerciais que Goa manteve com portos pouco distantes, em especial com Surrate e Bombaim, bem como as interdependências com os portos de África Oriental, Macau e Rio de Janeiro no quadro das transformações dos fluxos mercantis coloniais ocorridas no processo de emancipação do império brasileiro, entre 1808 e 1820.
A análise dos mapas estatísticos do comércio do Estado da Índia nesse período, permite realçar as seguintes conclusões: o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, foi a parcela do Império que mais beneficiou do comércio transoceânico com o Índico, correspondendo as remessas de mercadorias indianas, em média, a 73.4% do total das exportações do porto de Goa; por outro lado, 97% dessas mercadorias indianas, que seguiam o rumo do Brasil, eram compostas por têxteis; a esmagadora maioria dos tecidos reexportados por Goa era de origem guzerate e provinha do porto de Surrate e, em menor quantidade, dos chamados Portos do Sul; finalmente, foram enviadas para Goa quantidades apreciáveis de ouro e prata brasileiras que, no entanto, estavam longe de pagar os géneros asiáticos.
O valor total dos têxteis indianos remetidos para o Rio de Janeiro, entre 1809 e 1819, girou em torno de 8:400:000$000 réis (c. de 2370.000 libras esterlinas), uma quantia enorme se tivermos em conta que o total de ouro e prata brasileira enviado para Goa, no mesmo período, para saldar a factura dos têxteis foi apenas de 656:948$900 réis (185.055 libras esterlinas). Ou seja, nas transacções entre Goa e o Rio de Janeiro o valor dos metais preciosos apenas cobria cerca de 1/13 dos têxteis indianos.
Em relação ao movimento comercial entre o Brasil e a Índia os Mapas indicam a entrada de 36 navios em Goa. Só nos anos de 1817 a 1819 chegaram a aportar 4, 8 e 7 navios, respectivamente, cifras que estavam ao nível dos anos áureos da Carreira da Índia. A maioria das embarcações partiu do Rio de Janeiro o que parece confirmar a tese de Fragoso a propósito da «dinâmica própria» dos comerciantes privados cariocas.[13] Da Baía largaram cinco navios e de Pernambuco apenas um. Convém entretanto realçar que as rotas entre o Brasil e o Índico não se dirigiram apenas ao porto de Goa. Cerca de metade dos navios que navegavam em direcção à Índia fazia escala nos Portos do Norte, principalmente em Surrate e Bombaim, para comprar tecidos guzerates. Outros, interrompiam a viagem em Moçambique ou nas Maurícias para carregar cera e marfim que levavam para Surrate e Bombaim, ou paravam na ida para o Brasil para adquirir escravos.
http://www2.iict.pt/?idc=102&idi=12905
jueves, 10 de septiembre de 2009
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